Baixa demanda e queda nos preços deixa setor sucroalcooleiro em situação difícil

Um quarto das usinas de açúcar e álcool em operação no Brasil corre o risco de fechar as portas até o fim do ano por causa da crise do coronavírus. Hoje, 104 plantas sucroalcooleiras no país estão em recuperação judicial. A baixa demanda em função da pandemia e a queda nos preços do etanol são apontadas por especialistas como principais responsáveis como principais responsáveis pela situação delicada do setor.

Sem capital de giro para pagar contas de curto prazo, parte das usinas nacionais tem sido abatida pela forte queda de demanda pelo combustível em função do coronavírus. Para piorar, o derretimento da cotação do petróleo – a cotação do etanol tem como referência a gasolina – nos mercados internacional tem impactado fortemente o caixa das empresas sucroalcooleiras.

Segundo números da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Única), as cotações do álcool recuaram de R$ 2 para R$ 1,30 o litro (valor líquido). Em paralelo, a demanda cedeu mais de 50% como efeito direto das restrições impostas por governos para combater a pandemia. Grupos mais capitalizados têm fôlego para armazenar a produção de etanol e até mudar o mix da indústria, passando a produzir mais açúcar.

Essa não é a realidade de boa parte das 350 usinas sucroalcooleiras em operação no País, segundo dados da Unica. Quase uma centena de unidades produtoras, que não tem condições de estocar etanol, acaba vendendo a produção por preços mais baixos, com isso tendo muito mais dificuldades de caixa para suportar os próximos meses.

Setor vinha bem

Até fevereiro de 2020, o setor tinha um cenário positivo, com os preços de açúcar e de etanol em patamares competitivos. As usinas mais capitalizadas, por exemplo, já tinham travado as cotações do açúcar (hedge) e a demanda pelo combustível estava firme. É o caso de Raízen (joint venture entre Cosan e Shell) e São Martinho.

Ricardo Mussa, presidente da Raízen, afirmou que a companhia sempre teve muita disciplina na gestão de risco e o fato de o grupo ser integrado (a companhia também é distribuidora de combustíveis) ajuda nesta atual crise. “Neste momento, fica clara a importância de fazer a fixação de preços da commodity, não só açúcar, como também do etanol”, afirma.

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