O avanço da Indústria 4.0 no Brasil necessita mudança no perfil de líderes que entendam e identifiquem os riscos e as oportunidades existentes

Por Ronaldo Fragoso*

A indústria está em constante transformação no mundo todo e, junto com isso, é comum que surjam incertezas e preocupações. A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII espalhou por todo o mundo grandes mudanças na economia, nas relações trabalhistas e no estilo de vida da humanidade que perduram até hoje. Após esse marco histórico, a indústria passou por outras incontáveis modificações globalmente e assim continuará nos próximos séculos.

Atualmente, temos vivenciado mais uma importante etapa desse processo – a Indústria 4.0. Muito se fala sobre o tema e a primeira coisa que vem à mente é tecnologia. Não se trata, contudo, de avanço tecnológico puro e simples. Há outros fatores envolvidos.

A Indústria 4.0 se trata de como tecnologias serão reunidas e de que forma empresas podem usá-las de maneira que impulsionem as operações e o desenvolvimento. Outro fator estritamente importante quando falamos em uma nova revolução industrial é o capital humano. Sem a força das pessoas para conduzir processos e transformações, não há revolução. Aliás, a busca por talentos e profissionais preparados para riscos e oportunidades da Indústria 4.0 é um dos grandes desafios no Brasil.

Pesquisa recente da Deloitte sobre o tema identifica quatro perfis de liderança dentro do contexto de desenvolvimento da Indústria 4.0 no país e aponta que alguns estão progredindo mais do que outros ao entender melhor os desafios atuais nas quatro principais áreas de impacto: sociedade, estratégia, tecnologia e talento.

Esses quatro perfis de liderança certamente farão a diferença no novo mundo em que digital e físico se conectam e trazem uma maneira inédita de se trabalhar com dados, Internet das Coisas, estratégias de negócios, clientes, funcionários, stakeholders e sociedade. As quatro personas identificadas são: Data-driven decisive (estratégia), disruption driver (tecnologia), talent champion (talentos) e social super (sociedade).

Os data-driven decisive são líderes que trabalham para desenvolver estratégias eficazes para suas empresas em mercados em rápida transformação. Os disruption driver se concentram mais no uso de tecnologias da 4ª Revolução Industrial para proteger seus negócios do que para fazer investimentos arriscados. Já os talent champions estão mais à frente na preparação da força de trabalho para o futuro; acreditam que sabem as competências que suas empresas precisarão. Os social super, por sua vez, expressam um compromisso genuíno em melhorar o mundo, considerando o alto impacto da Indústria 4.0 na sociedade.

A partir do estudo, conseguimos saber quais são os perfis de líderes responsáveis por consolidar a Indústria 4.0, mas os desafios são inúmeros, principalmente no que diz respeito às pessoas. A pesquisa mostra que o caminho a ser percorrido ainda é bastante longo, isso porque 54% dos participantes dizem ter dificuldade em atrair talentos com as competências necessárias. Além disso, 38% alegam que faltam profissionais com conhecimento tecnológico e competências necessárias para as novas demandas. Quanto ao desenvolvimento de seus atuais profissionais, apenas 28% apontaram que os treinarão extensivamente para atender às demandas desta revolução.

No Brasil, estamos imersos à 4ª Revolução Industrial, ainda que caminhando a passos lentos. Agora, as organizações precisam, urgentemente, fazer o dever de casa para que o país não fique de fora dessas transformações. Não acompanhar as tendências pode ser prejudicial não só às empresas e governos, mas à sociedade. Estar pronto é ficar um passo à frente rumo às próximas grandes mudanças.

*Ronaldo Fragoso é sócio da Deloitte no Brasil