Empregos do futuro vão exigir profissionais mais qualificados

13/01/2020

Por Rafael Lucchesi*

A tecnologia foi, ao longo da história, o motor que alterou a produção industrial e o mercado de trabalho. As transformações disruptivas sempre criaram o temor da perda de empregos para máquinas, mas o progresso tecnológico e a automação não fizeram o ofício humano obsoleto, apenas o modificaram. Nesta 4ª Revolução Industrial, a perspectiva é de uma mudança ainda mais profunda nos perfis profissionais, assim como do surgimento de novos negócios, alguns dos quais ainda nem sequer conseguimos imaginar como serão.

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, 65% dos alunos que iniciam o ensino fundamental agora trabalharão em ocupações hoje inexistentes. Estudo realizado pela consultoria McKinsey, em 54 países que concentram 78% da força de trabalho global, afirma que, até 2065, mais da metade das atividades de trabalho poderão ser automatizadas. No Brasil, esse percentual chega a 69% na indústria.

Essa perspectiva não deve, no entanto, amedrontar os jovens que planejam uma profissão nem os profissionais que já estão no mercado. Ao contrário, esta é a hora para se informar sobre as oportunidades que vão surgir e, sobretudo, preparar-se para elas. Uma fonte de informação, por exemplo, é o Mapa do Trabalho Industrial 2019-2023, elaborado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), segundo o qual as ocupações ligadas à tecnologia terão crescimento acelerado nos próximos anos.

As projeções sobre o futuro apontam ainda que algumas funções perderão sentido com melhorias nos algoritmos de aprendizagem de máquinas. Robôs inteligentes devem ser usados em tarefas repetitivas ou insalubres. Por outro lado, novas profissões, com atividades mais complexas, devem surgir. O Fórum Econômico Mundial prevê que 75 milhões de empregos podem desaparecer, enquanto 133 milhões de novos postos serão criados, mais adaptados à nova divisão de trabalho entre homens e máquinas.

Nesse cenário, uma certeza existe: os profissionais da Indústria 4.0 serão mais qualificados. A educação é o caminho para quem deseja dominar as novas tecnologias digitais, que terão papel central no mundo do trabalho nos próximos anos. Competências de base cognitiva deverão ganhar relevância, como pesquisar, interpretar grande quantidade de dados, planejar e resolver problemas complexos.

O Brasil precisa dar ênfase a um sistema educacional capaz de, ao mesmo tempo, formar cidadãos conscientes e prepará-los para o novo mundo do trabalho. É necessário educar a juventude no novo paradigma tecnológico e qualificar as pessoas que já estão no mercado, aumentando a capacidade de compreensão e análise necessárias no ambiente da Indústria 4.0. Além disso, é preciso investir em treinamento, qualificação e atualização permanentes. O aprendizado não mais se encerra nos bancos da escola regular, que vai do jardim de infância à faculdade.

Uma das melhores respostas aos desafios impostos pela 4ª revolução industrial é fortalecer o ensino técnico. Não à toa, países desenvolvidos e os emergentes mais bem sucedidos têm alterado seus marcos regulatórios nos últimos anos para valorizar, ainda mais, a educação profissional. Na Europa, em média, 50% dos alunos fazem uma formação profissional durante o ensino médio. No Brasil, são apenas 10%.

É preciso que a sociedade brasileira trabalhe, desde já e nos próximos anos, para valorizar a formação técnica-profissional, criando oportunidades de inserção dos nossos jovens e adultos no mercado de trabalho. Entre outras medidas, é necessário ampliar vagas, adequar a oferta às demandas de médio e longo prazos dos setores produtivos e garantir uma capacitação que dialogue com as novas tecnologias digitais.

O SENAI tem acompanhado de perto essa transformação e já iniciou a oferta de cursos destinados a formar profissionais para a indústria digital. O mais importante é ver este momento não como uma ameaça, mas se qualificar por meio da educação de qualidade para os empregos do futuro.

 

* Rafael Lucchesi é diretor-geral do SENAI, diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), diretor de Inovação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE).

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